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domingo, 22 de setembro de 2013

Hora do Curativo

Quando eu era criança, viajava com meus primos nas férias. A gente se arrebentava nas brincadeiras e correrias, mas raramente contava aos pais, porque aí nos impediriam de brincar de novo. Meu saudoso padrinho Valter estipulou "a hora do curativo". Tia Carminha e minha mãe já deixavam tudo à mão: esparadrapo, Band-Aid, mertiolate - que, na época, ardia muito -, água oxigenada e algodões. O sol ia se pondo e a gente, de banho tomado, ainda corria pela rua ou tentava se esconder, mas ele sempre nos encontrava, nos colocava sentados sobre uma mureta e começava os "procedimentos". Doía na hora, mas também era o máximo ver a H2O2 espumando sobre o machucado ou contar a quantidade de curativos que havíamos acumulado. Nunca tivemos infecções ou qualquer outro problema. Nem mesmo quando fatiei um pedaço da perna sobre uma lâmina de arar terra, caindo de uma figueira sobre o arado do meu tio. 

Acho que muitas infecções emocionais que tenho hoje decorrem da falta de coragem de limpar certas feridas e colocar um curativo. Na hora, pode doer muito mais. Mas a dor passa e, por vezes, nem cicatriz fica. Preciso estabelecer a "hora do curativo emocional" e me disciplinar a cumpri-la. Para que as coisas só doam no tempo certo de doer e não se prolonguem indefinidamente, contagiando minha alma.